“[cada um vive] para a satisfação imediata, mas, ao mesmo tempo, vive para uma sociedade hedonista pura. As pessoas querem essa satisfação, mas, ao mesmo tempo, vivem extremamente inquietas quanto ao futuro, com medo do desemprego. Porque a globalização fomenta estes medos. As pessoas estão preocupadas com as suas reformas”.
Giles Lipovetsky2
Num estudo muito citado publicado no Psychological Bulletin em 1967, Warner Wilson concluíu que as pessoas mais optimistas, entendendo-se o optimismo como tendência generalizada para esperar resultados favoráveis, são as que mais facilmente estabelecem metas que actuam como normas ou aspirações, cujo grau de consecução influencia o bem-estar subjectivo. Como disse Churchill: “o pessimista vê dificuldade em cada oportunidade; o optimista vê oportunidade em cada dificuldade”.
A busca da felicidade é um objectivo optimista que coloca nos ombros dos indivíduos a responsabilidade de serem felizes. O papel da “divina providência” nesse empreendimento, invocado pelos crentes, parece ser diminuto, pois a religião, tem um impacto diminuto nesse desígnio, dando razão a Sartre quando afirmava, e cito de memória, que Deus criou o homem mas, ao dotá-lo de livre-arbítrio, eximiu-se à responsabilidade pelo seu destino. A busca da felicidade é um projecto de vida e a vida, como disse John Lennon, “é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro”.
Nesta perspectiva, será que há relação entre a felicidade e o optimismo? Serão os países com níveis de felicidade mais elevados também mais optimistas ou vice-versa? Na figura seguinte, que mostra essa relação, podemos observar que a correlação é positiva – quanto mais optimista, mais feliz – e que Portugal se situa no quadrante dos menos felizes e menos optimistas. Note-se o caso particular da Ucrânia que regista níveis de felicidade inferiores à média e de optimismo superiores. Os desenvolvimentos posteriores a 2012, certamente, já terão alterado esta relação.

A tendência é para que os países “mais felizes”, com a Escandinávia em destaque, sejam, também, mais optimistas relativamente ao futuro. Tal como na confiança, que vimos em crónica anterior, Portugal regista valores de que não nos podemos orgulhar. Será um atavismo dos portugueses ou é uma situação meramente conjuntural? O “mal” parece antigo, a fazer fé neste excerto de Pátria, escrito por Guerra Junqueiro há mais de 100 anos (1896): “um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo […] um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai […] Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter”.
Apesar disso, sejamos optimistas pois, como disse Fernando Pessoa através de Bernardo Soares, “Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for”. É urgente “torcer o destino”, como canta Sérgio Godinho. Sejam felizes, busquem a vossa felicidade.
Publicada em 08-05-2015 | Diário as beiras – Opinião, pág 16
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